PERCURSOS | Desenhos e Pintura

HENRIQUE FARIA

Galeria Espaço Artever
de 30 de Setembro a 30 de Outubro de 2006




No Desenho Encantado
Preencher uma folha de papel pressupõe ter algo para dizer. A fala transformada em ideias pode apresentar-se dos mais variados modos. Através das línguas escritas, linguagem com registo não universal e de aprendizagem por vezes difícil. Ou por via da linguagem do Desenho de apreensão universal. É obvio que nem todo o Desenho é fácil de descodificar. Mas propõe um entendimento dinâmico. Um entendimento a cada um por sua conta e risco.
E é neste entendimento que os Desenhos do Henrique Faria (e as pinturas aqui apresentadas que são, quanto a mim, desenhos coloridos) se tornam apetecíveis de ler. Desenhos cheios de formas arrancadas do âmago branco. Formas e fundos simultâneos; cavernas e troncos; carvão e fogo; gente e ausência; espaço e vazio... e por aí adiante num vasculhar de tensões, e numa miríade de sentidos.
Os Desenhos falam por intermédio de quem os faz e de quem os lê. E é só deste encontro que se transforma o papel em Desenho Encantado.
Amadora, Setembro de 2006
José Mourão
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ATALHOS PARA A COMPREENSÃO DA OBRA | Pintura

EDUARDO ABRANTES

Galeria Espaço Artever
de 11 de Março a 6 de Abril de 2006




A pintura e a obra aberta
A exposição “Atalhos para a Compreensão da Obra” de Eduardo Abrantes propõe-nos, numa pequena narrativa, o encontro entre a obra do autor e o seu distanciamento da mesma. Ironizando das próprias opções estilísticas e temáticas num diálogo com o espectador. Apresenta-nos um caminho no modo de colorir e de texturar. Desafia-nos a participar pelos sentidos e pelas múltiplas leituras. Estimula-nos na procura do seu modo de fazer. A luz sente-se do interior para o exterior banhando quem a ela se entrega sem preconceitos. A densidade do que está descrito, mas não dito, vive-se saboreando as suas cores rebuçado o os tons terra temperados de preto e branco na medida certa. Os novelos, os tracejados, as formas geométricas e as formas orgânicas compõem um ambíguo cenário de figuração / não figuração, num clima de provocação ao imaginário de cada um. Uns encontram um dramatismo romântico nos ambientes difusos e de penumbra. Noutros uma alegria pop na envolvente vibrante e colorida. Contudo estes atalhos por nós vividos não são conclusivos. Serão antes o início, de um convívio, com mais uma obra aberta.
Amadora, Março de 2006
José Mourão
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FRAGMENTOS | Pintura

CORCEIRO

Galeria Espaço Artever
de 4 a 25 de Fevereiro de 2006









Neste conjunto de trabalhos, de Corceiro, podemos falar da reconstrução da pintura. O experimentar revivalista do ofício de criar novas imagens. O recompor o indizível das partes isoladas com o dizível da composição final. O labor de quem pinta sem matéria em pasta, nem propósitos prévios. Tudo acontece como que de uma festa se tratasse. Recortar, posicionar, colar e voltar a colar eis a “dança” que já muitos outros “dançaram”. Mas o olhar é doutro. É o de quem procura não acabar. E renovar é preciso. E é urgente renascer dos fragmentos.
Amadora, Fevereiro 2006
José Mourão

ESPÓLIO DA ÚLTIMA VIAGEM DE FERNÃO DE MAGALHÃES | Pintura

JOAQUIM LOURENÇO

Galeria Espaço Artever
de 25 de Novembro a 30 de Dezembro 2006



Espólio da Última Viagem de Fernão de Magalhães
Para além de um título é um conto. Um conto breve. Como breve era a referência ao feito desta personagem nos nossos manuais escolares. Ou não tivesse este herói cumprido a sua desdita a mando dos reis espanhóis. Sacralizado por uns e por outros, deixou memória. E é dessa memória que Joaquim Lourenço se (e nos) propõe descobrir uma possível iconografia. É neste olhar que somos transportados pelo imaginário denso e pesado, eivado de alguma alegria manifesta no colorido destas obras. Há uma interpretação e um vislumbrar irónico da aventura de um português por outras paragens. Joaquim Lourenço (de quem tenho o privilégio de ser amigo) provoca, como que um reflexo, nalgum paralelismo com as histórias dos seus tempos em Moçambique que o ouvi tantas vezes contar. Poderá não ser da sua consciência, mas é da minha sentir as descrições dramáticas, de momentos tensos, que logo se resolviam com situações coloridas e pacientes. Estes trabalhos, também, são a ilustração do desejo de um sobrevivente à procura de outras paragens. São objectos que nos permitem a contemplação e a admiração. São os objectos dum conto nesta nossa viagem que não queremos que seja a última.
Amadora, Novembro de 2006
José Mourão
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